23 de Outubro de 2012

Dores do Crescimento de uma Empresa

Conforme uma empresa cresce, todas as dimensões dos negócios também são ampliadas. Algumas questões relacionadas ao crescimento dizem respeito às mudanças cujas necessidades foram originadas pelo próprio crescimento. 

Crescimento nos negócios é um objetivo que a maioria das empresas busca. Entre os principais indicadores de sucesso, muitos estão relacionados às vendas, faturamento e ampliação de território. Esses indicadores, entre outros, traduzem relativamente bem a performance comercial de uma empresa e a efetividade da estratégia de marketing adotada. Entretanto, empresas muito focadas em vendas frequentemente não priorizam como deveriam a promoção de ajustes estruturais imprescindíveis para a sustentabilidade dos negócios e para o próprio aumento das vendas.

Ajustes que dizem respeito às pessoas, fornecedores, prestadores de serviços, local físico, processos de trabalho, segurança interna, informação, sistemas, entre muitos outros fatores que possibilitam que a empresa possa vir a desempenhar adequadamente sua proposta de valor, sua missão. São quesitos relacionados à maneira de administrar os recursos, a forma de gerir as finanças, de utilizar as ferramentas gerenciais que, por vezes, para uma mesma empresa precisam ser completamente diferentes entre as diferentes fases de sua vida. Quanto mais rápido o crescimento de uma empresa, maiores e mais intensas são as necessidades de ajustes que ela requisitará. A falta de adequação estrutural frente ao crescimento é um dos principais motivos de quebra de empresas. O subdimensionamento ou o superdimensionamento de recursos são bastante nocivos, mas a inadequação qualitativa dos recursos é o aspecto mais difícil de ser ajustado, ou seja, o que era bom no passado precisa ser analisado frente à realidade atual e futura da empresa. Os principais ajustes a serem feitos frente ao crescimento empresarial são: 

1- Planejamento financeiro. Todo crescimento demandará capital. A falta de programação adequada quanto à necessidade de capital de giro, por exemplo, poderá trazer consequências desde o aumento do custo de capital até à perda completa de liquidez o que poderá onerar a operação ou até vir a inviabilizar. O planejamento financeiro deverá prever adequadamente não só a necessidade de capital, como também sua capacidade de obtenção pela empresa.São duas coisas totalmente diferentes. O segundo quesito, muitas vezes é negligenciado, é grande causa de sufoco financeiro;

2- Revisão da efetiva competência do quadro de funcionários/colaboradores. As pessoas que acreditaram na empresa em seu início e que contribuíram e se dedicaram para seu crescimento nem sempre têm os requisitos para dar os próximos passos juntamente com a empresa. Será necessário escolher adequadamente o perfil dos profissionais que desempenharão cada cargo levando em consideração as necessidades vigentes e futuras da empresa. Esse é um processo dinâmico, requer uma análise sincera da efetiva competência, qualificação e potencial dos colaboradores da empresa no sentido de verificar se realmente eles têm condição de desempenhar adequadamente as funções requeridas ao momento presente e futuro da empresa. Muitas vezes a direção da empresa precisa promover mudanças, mas possui vínculo emocional com algumas pessoas que foram essenciais no passado da empresa, mas que por qualquer motivo não se encaixam mais no presente e futuro da organização. A permanência de colaboradores exclusivamente pelo motivo de "dívida de gratidão" atrapalha muito o desenvolvimento saudável empresarial.

3- Revisão da estrutura orgânica da empresa. Cada fase empresarial requer um organograma adequado. Esse organograma refletirá a maneira que uma empresa toma e dissemina suas decisões entre todos os colaboradores. Empresas em início de atividade possuem o elemento do empreendedor como o centro das decisões. As decisões precisarão ser paulatinamente descentralizadas, de acordo com o crescimento, sob o risco de perder dinamismo, eficiência e até oportunidades.

4- Sistemas de Informação inadequado para a gestão. Por sistema de informações não me refiro exclusivamente a softwares, mas a todos os sistemas que geram, disponibilizam e possibilitam a análise informacional dentro das empresas. A indisponibilidade de informações corretas ou ainda a existência de informações difusas ou confusas nas organizações atrasa muito seu desenvolvimento. Muitas empresas possuem processos e sistemas de informação que, antes adequados, diante da nova realidade do crescimento se tornaram obsoletos e precisam ser mudados sob o risco de perda de controle.Os processos devem evoluir com as empresas, assim com os sistemas.

5- Controle da performance empresarial. O crescimento empresarial evidencia necessidade de acompanhamento de um conjunto de indicadores mais amplo, além dos comerciais. É fundamental clareza de objetivos sempre. Indicadores compatíveis com os objetivos traçados possibilitam o monitoramento dos resultados conseguidos. É fundamental que os indicadores e objetivos estejam associados à estratégia empresarial adotada, para que dessa maneira seja possível aos gestores acompanharem de perto o desempenho da empresa e promovam ajustes de rota rápidos quanto necessários. E sempre são necessários ajustes constantes.

6- Perfil dos prestadores de serviço. Independente da área de atuação, porte e disponibilidade financeira, as empresas e empresários deveriam ter a prática de sempre contratar os melhores profissionais disponíveis no mercado. Por vezes esses profissionais possuem honorários altos a ponto dos empresários optarem pela contratação de outros por conta dos valores envolvidos. Nem sempre honorários altos reflete garantia de qualidade nos serviços, mas dificilmente alta qualidade profissional estará disponível a baixos custos - maior profissionalismo e visão mais ampla requer maior tempo para formação, custa mais para ser mantido, portanto, custa mais para ser comprado. Os prestadores de serviços, tal como muitos colaboradores iniciais da empresa, têm também sua limitação e isso precisa ser identificado,compreendido e respeitado pelo empresário. Esse respeito significa uma revisão periódica crítica da qualidade dos serviços prestados. O mesmo raciocínio deve ser levado aos demais fornecedores da empresa em geral. Adoção de práticas de grandes empresas por empresas pequenas e médias. Muitas das práticas de gestão que são divulgadas por "gurus" da administração e estão abundantemente disponíveis em farta literatura podem ser adotadas por qualquer empresa, mas uma grande parte das recomendações não! O que deve ser feito sempre é analisar o problema vivenciado e os motivos para adoção de determinada prática. A maioria dos princípios e conceitos da moda são derivados de grandes empresas (portanto não são imediatamente aproveitáveis para a maioria das pequenas e médias empresas)ou ainda advém de experiências muito específicas, posteriormente generalizadas por pesquisadores que simplificam atrativamente determinados conceitos em apresentações, livros, ou outros, derivam desses conceitos um conjunto de ferramentas, criam argumentos adequados para defender sua importância, batizam com nomes compostos funcionais (a maioria formado de siglas composta por três, quatro ou cinco letras) e apresentam ao mercado como prática a ser adotada por todos. É preciso a compreensão e discernimento dos empresários quanto à efetiva utilidade de vários conceitos e ferramentas disponíveis no mercado, o princípio que trazem e muitas vezes as necessidades de adaptações para a realidade da empresa. Uma dica para todas as situações: Quanto mais simples forem as coisas, melhor.

7- A estrutura de custos de uma empresa que cresceu também precisa ser revista. O crescimento traz consigo nova gama de tipos de investimentos,despesas e outras necessidades antes não vivenciadas e que precisam ser levadas em conta conforme a empresa cresce. Há momentos em que investimentos diferentes devem ser feitos e isso altera a maneira com que a empresa se relaciona com seu mercado, principalmente quando a maturação dos investimentos é de médio/longo prazos. Não é possível, na grande maioria das empresas, crescer e permanecer com a mesma estrutura de custos e despesas. O crescimento traz necessidades diferentes que precisam ser compreendidas e incorporadas o quanto antes ao dia a dia empresarial.

Os pontos enumerados acima representam somente alguns dos aspectos que os empresários devem estar atentos em sua empresas em todos os momentos, pois o crescimento é dinâmico e nenhuma empresa dorme pequena e acorda grande, cresce aos poucos, justamente por isso algumas necessidades de mudanças são mais difíceis de serem identificadas. Há muitas outras facetas que o crescimento traz consigo com inúmeras variantes que devem ser considerados para cada caso e cada situação. O importante é que o empresário busque sempre o equilíbrio entre crescimento e estruturação. As duas frentes deve mandar juntas, o motor da empresa será sempre o crescimento, mas a empresa não sobreviverá sem sua retaguarda bem atendida. As conquistas na linha de frente das vendas poderão ser inversamente impactadas caso não haja esse equilíbrio. Cada empresa e situação devem ser analisados levando-se em consideração a visão geral interna da empresa, suas reais efetivas possibilidades nos diversos temas e tópicos, nos pequenos detalhes, só dessa maneira será possível à criação efetiva do planejamento e estruturação.

Marco Aurélio Militelli é consultor de empresas há mais de 25 anos e diretor-presidente da MILITELLI Business Consulting. Especialista em estratégia empresarial, projetos e processos para modelagem e estruturação de negócios, reestruturação, planejamento e expansão empresarial, franchising, licenciamento, processos de fusão, cisão, incorporação e aquisição de empresas. Atua como consultor comercial do Grupo Segurança.

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