24 de Setembro de 2012

Ver ou não ver – eis a questão

Desde que George Orwell lançou, em 1949, o romance “1984”, a questão da vigilância eletrônica suscita reflexões. Na obra, atualíssima, o “Big Brother” é um personagem que “zela por ti” – justificativa para uma sociedade na qual as autoridades mantêm a todos sob constante vigilância, principalmente por meio de tecnologia para monitoramento à distância (denominada telescreen).

 A partir daí, a expressão “Big Brother” serve não somente para situações de autoritarismo do Estado, mas, de modo geral, é utilizada para excessos no controle da imagem e invasão da privacidade. Não é à toa que deu título e tema ao popular programa de TV de confinamento humano monitorado por câmeras.

 

Hoje, em uma enorme gama de espaços públicos e privados – o que por vezes inclui nosso local de trabalho, de estudo e até nossa própria residência – as câmeras estão lá, capturando imagens que são acompanhadas, em tempo real, por uma central de monitoramento. Seja no hipermercado ou em um mercadinho, no estádio ou na rua, na prefeitura ou na creche, as câmeras de vigilância são ferramentas de segurança. Quando aparentes, além de monitorar, elas servem para inibir delitos, mas em boa parte das vezes, sequer sabemos que estamos sendo filmados – um movimento que não para de crescer e desperta críticas por parte de especialistas em liberdades individuais.

 

Também as instituições de ensino têm adotado a vigilância por câmeras como um dos caminhos para lidar com a violência intramuros.  Bullying, brigas, presença de estranhos, consumo de álcool, cigarro e drogas são algumas das situações que preocupam professores, gestores, pais e estudantes. No que tange à segurança, o espaço escolar já não é o mesmo de antes – conforme vemos todos os dias nos noticiários – e as câmeras de monitoramento visam contribuir para a proteção de alunos e de quem trabalha no local.  A iniciativa que começou pela rede privada, hoje alcança expressivo número de escolas públicas preocupadas com a vulnerabilidade de crianças e jovens, e ainda, com o patrimônio, coibindo a ação de vândalos.

 

Com as câmeras é possível visualizar distúrbios, atitudes suspeitas e até comprovar algumas práticas indesejáveis no ambiente escolar. Em muitos casos, os pais podem acompanhar as imagens pelo celular. A medida por vezes provoca reação dos estudantes, que se sentem vigiados até mesmo na sala de aula. No entanto, os reais ganhos em proteção vêm se sobrepondo a pontuais desagrados, de modo que a tendência é que cada vez mais escolas se aparelhem com câmeras e centrais de monitoramento em busca de maior segurança para todos.

 

O monitoramento eletrônico, por si só, não é bom ou ruim. O que vale é o uso que se faz dele e os resultados obtidos. Preparar as crianças e jovens para interagir num mundo cada vez mais monitorado e para se posicionar quanto a isso também faz parte da educação para a cidadania. Assim, teremos novas gerações mais preparadas para lidar com os limites e as vantagens advindas dessa tecnologia que só tende a propagar-se e sofisticar-se.

Renata De Luca

Gostou? Compartilhe